LIVRO A CARNE E O SANGUE As cinco da tarde do dia 5 de novembro de 1817, as fortalezas dispararam seus canhões: 21 tiros. Durante mais de duas horas, o foguetório invadiu o convés das embarcações, somando seu estrondo ao da artilharia. O exuberante Rio de Janeiro estava em festa. Pouco tempo havia que o Brasil passara a ser a verdadeira sede da monarquia lusitana. Apesar das belezas naturais, tudo era horrivelmente sujo, fétido e abandonado. A falta de higiene campeava e o conteúdo dos penicos era esvaziado pelas janelas entre outros maus costumes. O Padre Luís Gonçalves dos Santos, o Padre Perereca, era um dos mais inconformados com os hábitos bisonhos dos habitantes. Quem chegasse naquele momento teria a impressão de que desembarcara na África. Negros e negras ligeiramente vestidos transportavam mercadorias na cabeça: frutas, animais vivos, pacotes, feixes de fumo, água potável, roupas sujas e limpas e “tigres, isto é, tinas com excrementos. Os presentes amontoavam-se à espera do casal de príncipes e da família real.